O LADO BOM DA VIDA
A vida é dom de Deus, logo é boa. Não estamos nós a olhar somente os negativos, as desgraças e os sofrimentos? Ao perguntarem como estamos, respondemos que está tudo mal. Temos a tendência de falar da vida pelo lado dos problemas, das dificuldades, das dores, das desilusões e dos fracassos. Não compreendemos nada dos desígnios de Deus. Porque se eu peço força, Deus me dar dificuldades para resolver. Pede-se sabedoria, Ele dar problemas para solucionar. Pede-se prosperidade, Ele dar cérebro e músculo para trabalhar. Se eu peço amor, Ele coloca em minha vida pessoas para eu ajudar. Se eu peço valores, Ele me oferece oportunidades.
Deus não é nosso empregado para atender o que queremos. Deus é nosso Pai e atende as nossas necessitamos. Será que nossas batalhas não foram mais ganhas que perdidas? Claro que os sorrisos não deixam as cicatrizes que deixam as cacetadas, mas dão mais vitalidade que as lamentações. A história da humanidade pode ser escrita com sangue e lágrimas. Há, contudo, muitas alegrias que são um lenitivo para os momentos mais difíceis. Não vamos desdenhar a dor e o sofrimento.
O grande convite do sol que ilumina o amanhecer é provocar auroras na vida. Já diz o provérbio: “Depois da tempestade vem a bonança” ou, “se Deus te dá um limão, faça dele uma limonada!”. Temos tempos de inverno, mas sempre surgem as flores da primavera. Onde as estações são mais definidas, podemos ver a força de uma primavera que vem depois de um duro inverno. A natureza explode em vida. Não podemos viver aquela espiritualidade de considerar o mundo “como um vale de lágrimas”, como rezamos na Salve Rainha. A vida está bem mais para o coração de Deus que fez para o homem um paraíso. Mesmo que o tenha perdido, poderá ser reencontrado.
Já refletimos a fonte da alegria que está em nós. O mal e o pecado não destroem as coisas boas que Deus nos deu. O que podemos compreender e aprofundar é o mistério da misericórdia de Deus, para toda humanidade. O caráter alegre que haja em nosso bom Deus. Os deuses pagãos eram considerados vingativos, cheios dos vícios que trazemos em nós. Não é esse o Deus de Jesus. Ele é um Deus festivo e tem um excelente humor, como nos escreve Bento XVI. Basta ver a criação. Quantas coisas criadas no mundo mineral, vegetal e animal que são, para nós, engraçadas. Quem não se encanta com a alegria dos filhotes dos animais, com a beleza das cores das aves e flores, com a variedade das plantas e as curiosidades. Quem não se encanta diante de uma criança? Na própria Bíblia, nós encontramos a enumeração das festas a serem celebradas. E se escreve: “É festa para o Senhor” (Ex 12,14). Deus associa o povo que criou a sua alegria. Jesus participava das festas religiosas e profanas, pois estava no casamento em Caná, ia às festas do templo diversas vezes, participava de banquetes. Houve santo a dizer que Jesus não ria, só sorria. Era um homem que atraia crianças e fracos não era sisudo, era alegre.
Devemos sempre festejar, o que gastamos com as festas nem sempre é um desperdício. O calendário está sempre a nos convidar. A maldade ou pureza da festa está em nós, de darmos o sentido de vida e de santidade de Deus ao fazermos festa.
Se muitas alegrias se pervertem é porque os bons não se interessam de se alegrar de coração e implantar a alegria de Deus no mundo. A parábola do filho perdido e encontrado nos conta: “Era preciso que fizéssemos festa, pois este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi reencontrado” (Lc 15,31). As nossas comunidades e os cristãos serão melhores, se forem mais alegres, mais acolhedores, mais festivos. Aceitando os desígnios e as vontades de Deus nosso Pai.
Diácono Fernandes
A BELEZA QUE VEM DO ALTO
Existe um adágio popular que diz a primeira impressão é a que fica. E o belo não tem sido tema de reflexão sobre a espiritualidade, fica meio interiorizado o belo como pecado. Pouco se fala da beleza como caminho de santidade. Conhecemos o que se diz sobre a beleza da alma pura, a beleza do Céu e da graça. Contudo, Deus não nos fez só puros espíritos, mas um corpo de carne e osso, unido a uma alma.
Deus nos fez maravilhosos. O salmo elogia a beleza do rei: “És o mais belo dos filhos dos homens”; Da rainha diz: “Que o rei se apaixone por tua beleza” (Sl 45,3. 12).
Os artistas portugueses e espanhóis condicionaram a beleza de suas pinturas pelo grau de santidade dos santos, amor desenha em nós a beleza. Assim, o amor de Cristo pelas pessoas, sua dedicação o coroavam de uma beleza esplendorosa como vimos na Transfiguração. Os discípulos presentes à Transfiguração ficaram encantados com a beleza de Cristo em sua imagem de ressuscitado. A beleza do mundo mostra o quanto Deus é belo.
Como seria Jesus, Maria, José? Não podemos nos fixar em modelos de pinturas. Como podemos imaginá-los? Eles tinham o tipo de seu povo, sofrido como todos os povos, poucas condições de vida, terra de muito sol e trabalho pesado. Ele vivia no sol. Maria, mulher do povo era como as nossas mães. As rugas de Maria, em sua idade madura, estão nas faces de nosso povo. Não a faz feia, a faz amada. Deus usa a beleza para conhecê-lo melhor, assim, a pintura, a escultura, a música, a arquitetura, a dança, o cinema e TV são instrumentos que falam da beleza do Criador. Certamente pensamos no Cristo crucificado, machucado, sujo de sangue não era belo. O profeta Isaias refere-se ao Servo sofredor: “Ele não tinha beleza nem esplendor que pudesse atrair o nosso olhar, nem formosura capaz de nos deleitar” (Is, 53,2). A beleza é outra: A cruz é o trono do Rei Jesus crucificado. Essa beleza nos santifica e por ela conhecemos a beleza de Deus.
Todas as pessoas são belas. Todo ser, em si mesmo, é belo, este é um princípio da filosofia. A beleza que privilegiamos, no momento, é produzida e imposta à pessoa. Todo ser, em toda idade e condição tem uma beleza própria que pode nos encantar e mostrar o rosto de Deus.
Precisamos fugir dos estereótipos, modelos, padrões de beleza, que o mundo nos impõe. Na verdade é uma forma de exploração econômica. Essa beleza imposta não enriquece o ser humano. Vemos a beleza do ancião, da criança, do doente, que mesmo desfigurado, traz em si o rosto de Jesus sofredor. Somos convidados a aceitar a própria realidade como o melhor que exista. Certamente podemos cuidar, regular a alimentação, cuidar da saúde, fazer exercícios e cuidar da limpeza. Mas não podemos ir na onda. É bom aproveitar os dons pessoais para o bem de todos.
A beleza da pessoa humana está em seu interior alimentado pela da presença divina. Participamos da beleza de Deus. Temos a transparência da graça como uma luz que vem do interior. Que bom se pudéssemos ser atentos a isto. Nossa missão é recuperar a beleza que Deus colocou em cada pessoa como expressão de seu amor e da participação de sua vida. Temos defeitos. Eles não nos fazem piores, é nossa marca registrada. O que nos faz belos é a luta para servir, mesmo sendo fracos, para que Deus transparece a beleza de sermos seus filhos. Precisamos nos comportar como tal.
Diácono Fernandes